AS CRUZADAS II PARTE

 

                           CONTRA OS TURCOS 

"Eis o que foi bem estabelecido e é bem certo: nosso poderoso inimigo, o Sultão dos Turcos, prepara com os mais minuciosos cuidados uma frota considerável, sem precedente, uma armada e exército importantíssimos. Ele completa todos os preparativos que se fazem necessários, com o único fim de se precipitar o mais cedo possível contra Malta, para abater a Ordem Militar de São João, por ele particularmente odiada, e submeter essa ilha. Diz-se que dela deseja se apoderar, não só pelas grandes vantagens que oferece sob o ponto de vista estratégico, mas também, e mais ainda, em razão da humilhação por ele sofrida no sítio precedente. Como a tais forças a Ordem não pode de forma alguma resistir, nosso caro filho Jean de la Valette, seu Grão-Mestre, é obrigado a implorar o socorro dos príncipes cristãos contra o inimigo comum, o inimigo do Cristianismo. Não duvidamos que Vossa Majestade e seu povo venham em nosso socorro, tanto mais espontaneamente, aliás, pois é de seu maior interesse que uma ilha assim próxima da Sicília e da Itália não caia em mãos inimigas."

....( carta de São Pio V incitando os reis Católicos a combater contra os muçulmanos)

 

O PERIGO ISLÂMICO: AS CRUZADAS, UMA GUERRA DEFENSIVA.

As Cruzadas são apresentadas por alguns historiadores como guerras de conquista da Europa contra os Àrabes. Mas não é bem verdade. As Cruzadas surgiram porque os países Àrabes, depois de unirem todas as tribos numa mesma nação Islãmica continuaram a luta pelo poder total de Alá e seu profeta, marchando em direção aos Balcãs e à Península Ibérica. Desde o século VII, que os adeptos da doutrina Muçulmana, ou Islamismo, liderados por Maomé – que intitulava a si próprio “Profeta de Alah”-, iniciaram a guerra Santa, conquistando a Arábia a Palestina, ocupando os Lugares Santos de Belém Nazaré e Jerusalém, depois o Egito e daí passando a Espaha, onde foram chamados de “Mouros”.

Daí surge o antagonismo,eles ameaçaram Constantinopla, e acabaram por tomá-la no fim da Idade Média. Ameaçaram a Península Ibérica onde posteriormente se ergueram as fronteiras do “ Condado Portucalense” ( reino de Portugal) no que hoje conhecemos como Portugal e Espanha.Dominaram o Norte de Àfrica, e começaram a proibir o acesso aos lugares Santos, assim a Europa estava praticamente cercada pelos Turcos. E foi isso que motivou as Cruzadas. Eram consideradas como uma guerra defensiva, portanto justa,consequentemente, os Cavaleiros partiam com a consciência tranquila, pois não se tratava de uma guerra de conquista.

 

                         O DIA EM QUE SE PERDEU O "KRAK DES CHEVALIERS"

                     

 

Vista total da fortaleza Krak des Chevaliers

A partir do século XIII se evidenciou a debilidade da Cristandade em Terra Santa. A caída do inexpugnável krak dos cavaleiros foi um duro golpe na moral dos Cruzados.

O Krak dos Cavaleiros (em língua francesa, "Krak des Chevaliers"; designado pelos muçulmanos como "Galajat al-Husn") localiza-se na atual Síria, 65 quilômetros a oeste da cidade de Homs, perto da fronteira do Líbano.A expressão "Krak" ou "Karak" designa um tipo de fortificação erguida no século XII e no século XIII pelos Cruzados, nas regiões das atuais Síria e Palestina, para assegurar a defesa dos chamados “Reinos Latinas do Oriente”. Os principais eram o Krak dos Cavaleiros, que defendia o limite Nordeste do Condado de Tripoli, o Krak de Montreal, em al-Chawbak, defendendo o limite Sudeste do Reino de Jerusalém, e o Krak de Moab, em al-Karak, também no Reino de Jerusalém.

O Krak dos Cavaleiros foi erguido sobre um esporão rochoso do deserto sírio com a função de proteger a rota que unia a cidade síria de Homs (sob domínio muçulmano) à de Trípoli (Líbano), capital do condado de Trípoli, na costa do mar Mediterrâneo. A primitiva fortificação de seu sítio havia sido promovida pelo emir de Alepo. Foi conquistada por Raimundo IV de Tolosa em 1099 durante a Primeira Cruzada, mas veio a ser abandonada quando os cruzados seguiram o seu caminho até Jerusalém. O local foi reocupado por Tancredo, príncipe da Galiléia em 1110. Raimundo II, conde de Trípoli, cedeu-o aos cavaleiros da Ordem dos Hospitalários em 1142. Durante o século e meio que se seguiu, os Hospitalários construíram uma imponente fortaleza, a maior da Terra Santa, que resistiu a pelo menos doze assaltos muçulmanos, até cair diante dos mamelucos do sultanato do Egito em 1271.

Fonte: Wikimedia

 

O século XIII adquiriu uma lenta, mas progressiva decadência das Cruzadas em todos os terrenos. Se tivéssemos que assinalar um ponto de inflexão no processo, este seria a Quarta Cruzada, que em vez de dirigir-se contra os Sarracenos, se lançou contra o Império Bizantino. Desmembrado, ficou sumido em um terrível caos e um mar de violência que o deixou agonizante. Aquela guerra civil surgida entre Cristãos, fruto da avidez de riquezas e poder, que se antecipou aos supostos ideais dos Cruzados.

 Desta forma as posições em Terra Santa deixaram de receber os apetrechos e reforços necessários para manter a resistência perante a constante resistência dos Muçulmanos. Para agravar a situação muitos Cruzados residentes nos estados da faixa Sírio-palestina emigraram para o novo Império Latino que substituiu o Bizantino, atraídos pela possibilidade de participar no reparto do botim. Como resultado as posições Cruzadas se debilitaram ainda mais. A decadência era já anunciada.

Os cada vez mais reduzidos estados Cristãos lograram sobreviver graças às tensões internas entre Muçulmanos e a ameaça que os Mongóis representavam para os mesmos. No entanto, primeiro a instâncias do Papado e logo por iniciativa dos monarcas Europeus, se organizaram novas Cruzadas com o fim de salvar os enclaves Cristãos no Oriente, tão importantes política e economicamente para os reinos Europeus. Em 1217 se proclamou a quinta Cruzada.

Um exército húngaro, Alemão e Austríaco marchou contra o Egito, cujos governantes apareciam como o maior desafio e os estados Cruzados. Quatro anos depois de alguns êxitos iniciais, como a tomada do Porto de Damieta. Os Cristãos tiveram que retrair- se e perderam o conquistado. O Imperador Frederico II organizou em1228 a sexta Cruzada como resposta nas exigências papais por apoiar sua coroação. Depois de uma complicada expedição, manobrou de uma complicada manobra com os Muçulmanos e logrou fazer-se com Jerusalém ( na qual se proclamou rei) e outros Santos lugares,para mais de conseguir uma trégua de dez anos.Mas em 1244 a cidade voltou a perder, e desta vez para sempre.

OS MUÇULMANOS SE ORGANIZAM

A partir de meados do século, o poder Sarraceno se reorganizou, e sob a direção do comandante mameluco Baibars, submeteu um tremendo acosso nas posições Cristãs. Entretanto todas as tentativas da Europa no sentido de socorrer, apenas obtinham fracassos. Em 1248 o rei Francês Luiz IX partiu na frente da sétima Cruzada com o apoio do papa. Mais de vinte mil homens e centenas de barcos carga dos de apetrechos zarparam de Marselha, passaram o inverno em Chipre e conquistaram Damieta.

Desde esta cidade negociou com os Mongóis para fazer frente comum contra os Sarracenos, enquanto tratava de consolidar as fortalezas de algumas fronteiras que estavam desguarnecidas. Depois de seis anos de estada, regressou a França deixando uma escassa guarnição como reforço.

 Luis empreendeu uma nova cruzada em 1269, a oitava. Desta vez contra o emir de Túnez, ao qual pretendia ingenuamente converter ao Cristianismo. A intenção compreendeu um desastre, e como grande parte de seu exército, acabou por morrer, como quase todo o seu exército no ano seguinte por causa da peste que se fez sentir durante o assédio. Assim os Mamelucos iam expulsando os Cruzados de suas posições. Só as ordens militares do Templo e Hospitalares, junto com tropas recrutadas pelos comerciantes Italianos nas cidades, faziam frente aos avanços Muçulmanos.

Nesta situação de crise para os Cristãos Baibars, já feito sultão da dinastia Mameluca, havendo unificado o poder Muçulmano em todo o Médio Oriente, decidiu assediar o Krak dos Cavaleiros.

 

O CASTELO INEXPUGNÁVEL

A rede de castelos Cruzados havia sido sempre de vital importância para a presença dos conquistadores Europeus nas terras Sírio-palestinas.

 As guerras em Terra Santa eram as típicas das zonas fronteiriças, caracterizadas por constantes incursões, golpes de mão tomada de enclaves e cidades e, de vez em quando, grandes batalhas. Mas a falta recorrente de homens e efetivos dos Cristãos, que só podiam chegar por mar por meio de viagens arriscadas e em grupos não muito grandes, fez com que as estratégias militares se centrassem mais nas lutas defensivas, nas quais os castelos eram decisivos. A partir de meados do século XIII o processo se complicou.

             

 

              Castelo de Almourol Portugal

 

200 FORTALEZAS PARALELAS

 

Mais de duzentos castelos foram o resultado do esforço construtivo dos Cruzados, assentados principalmente em duas franjas, a primeira era a linha do mar, com o fim de assegurar os portos e as vias de chegada de reforços e abastecimentos vários. Assim deu lugar a fortificações ao largo da costa das atuais Síria, Líbano, Israel e Palestina mais as de Trípoli, Sidon, Beirute, Tiro, Cesárea, Ibelin... A segunda agrupação corre paralela à primeira, mas uns quarenta kilómetros no interior, vigiando as alturas no interior, vigiando as alturas do vale do Jordão e bordando o este de onde provinha a ameaça. Seriam os castelos de Montefort,Beaufort,Belvoir,Kerak... Também havia outros, os mesmos, colocados nas rotas que comunicavam a costa do interior, entre eles figurava o Krak dos Cavaleiros.

Os Cristãos tinham a necessidade de levantar fortalezas em Terra Santa e as características físicas do entorno determinaram o seu formato. O que abundava na zona era pedra, e com ela se supriu a falta de madeira (um material de construção habitual na Europa). Isto deu lugar a Castelos muitos mais resistentes ao fogo e aos assaltos que os Europeus. Também era possível edificar grandes espaços elevados, que constituíam grandes plataformas de combate. Os Cruzados importaram seu estilo, com a torre de homenagem como centro, mas rápido se misturou com a rica tradição do Médio Oriente. Foram copiadas as torres redondeadas e os muros de escarpa, com um ângulo exterior de 80 ou 75 graus em lugar de 90. Isto dificultava o ataque das torres de assédio, não alcançavam o alto das muralhas, ao tempo que sua ampla base resistia melhor às minas. Estas inovações resultando das fusões de distintos estilos defensivos (Ocidental, Bizantino e o próprio da região), serviram de modelos para a futura arquitetura militar Européia.

A história do Krak dos Cavaleiros reflete fielmente a das Cruzadas e da presença Cristã em Terra Santa. Sua jornada começou em 1031,quando o emir de Homs decidiu em um risco de difícil acesso uma guarnição de Kurdos,cuja missão seria controlar os caminhos que uniam a costa a uns trinta kilómetros, com o interior. Parece que os Cruzados de Raimundo IV de Tolosa tomaram o castelo pela primeira vez em 1099, ainda assim não foi ocupado definitivamente até uma dezena de anos depois por Tancredo de Galileia, um dos chefes da primeira Cruzada. Vendo o peso estratégico do enclave, tanto militar como comercial, os Cristãos decidiram ampliá-lo e reforçar sua estrutura. As obras começaram de imediato. Levantou-se a grande muralha exterior e se cavou um largo fosso entre ambas as linhas de defesa que se encheu de água. Especialmente poderosas foram as defesas construídas na parte sul, o único lugar onde o castelo se abria a um terreno plano, e quase o único ponto onde poderia ser atacado.

 

 

Com aquela reforma, antes de chegar ao primeiro lance de muralhas, os possíveis atacantes tinham que desenhar um talude e tentar passar um fosso seco, o que dificultava muito o avanço e aproximação e permitia aos defensores agredi-los com força. Em 1142 o castelo foi entregue á ordem Hospitalária de São João de Jerusalém, os Hospitalários fizeram dele sua sede durante quase um século. A partir de então foi conhecido como o Krak dos Cavaleiros, ainda que os Muçulmanos continuassem a referir-se a ele como a fortaleza (Hosn). Os Hospitalários prosseguiram as obras de construção, que culminou 1170. Pouco antes tiveram que fazer frente a terremotos, em1157 e 1169, que atrasaram os trabalhos.

Precisamente entre os sismos o sultão Nur-a-Din, aproveitando as fissuras nas muralhas fez um sério intento de assédio, mas fracassou. Também saladino,em 1188, tentou, mas colidiu com os muros se êxito e assim por diante mais uma série de tentativas de assalto fracassaram o que concedeu ao Krak a fama de inexpugnável. Em 1202 sofreu os efeitos de um novo sismo. No entanto, cada obra de reparação e reforma mais ele se fortalecia.

Os Hospitalários levantaram muralhas cada vez mais grossas e situaram entre os grandes pilares de pedra outros ainda mais resistentes que atuavam como um reforço anti sismo. Tanto o muro perimetral exterior como o interior oscila entre os oito e os doze muros mais espessos e entre os vinte e os quarenta metros de altura. Na fachada sul, a única que dava a um terreno eram imponentes. Na sua vigilância se combinavam as torres redondas e quadradas.

Se os atacantes lograssem sobrepor o primeiro muro de defesa, coisa que seria muito difícil se deparava com um fosso cheio de água (alimentado por um aqueduto exterior) e, depois dele, um novo perímetro amuralhado.

                           

ESTILO GÓTICO

O largo passeio interior de suave pendente, que comunica a fortaleza central com o exterior, está salpicado de brechas por onde os arqueiros podiam disparar e varrer todo o tipo de substâncias ferventes. Com certeza estava protegido por torres interiores, pontes levadiças e ancinhos que impossibilitavam a sua utilização para penetrar no interior.

 

Pela ponte elevadiça podiam sair os cavaleiros para desferir uma carga em fila de dois, desta forma os cascos da cavalaria retumbava em toda a fortificação de aí se supõe o nome de Krak,pois ele fazia referência a este ruído.Outros opinam que deriva do nome Sírio de Karak,que significa fortaleza. O castelo podia albergar uma guarnição de dois mil homens, junto a centenas de cavalgaduras. Então enormes depósitos de azeite, farinha cereais, carne, legumes, sal, diversos metais, armas, cisternas e poços de água, forragem moinhos, fornos... ,assim como amplas quadras,banhos e latrinas, desta forma podiam resistir a um cerco durante um ano.

Todas estas dependências se encontram escavadas na rocha que forma as fundações do castelo, em baixo o primeiro circulo defensivo, o que as converte em praticamente invulneráveis. Na fortaleza interior se encontra as residências dos Cavaleiros, a sala capitular, a capela, o pátio de armas e o centro de poder dos Cavaleiros, local referenciado como vigia, ou pontos de observação, que resultava fácil dominar kilómetros de paisagem, que em dias claros se chegava a ver o mar.

A cidadela não é só impressionante por suas dimensões e capacidade defensiva, também reflete o poder dos Cruzados e em particular, da ordem dos Hospitalários. A sala capitular – o recinto mais nobre de toda a construção, onde se reuniam os Cavaleiros, com tetos em forma de abóboda e portas e janelas góticas.Era de tal impacto que produzia entre os visitantes, que os reis Europeus colheram esta arquitetura para adornar os castelos e catedrais em França, Inglaterra, Espanha e Portugal.

 

 

                           A CAIDA DO KRAK DOS CAVALEIROS

 

Em 1270 a última Cruzada Luis IX tinha fracassado, e os Cavaleiros em Terra Santa se encontravam cada vez mais exaustos e desguarnecidos. A guarnição do Krac não era exceção y apenas contavam com umas centenas de homens para fazer frente a um novo assédio. O ataque final viria da mão de Baibares.

O Sultão Mameluco era um curioso personagem que chamava a atenção por sua extrema altura,assim como pela intensidade de seu cabelo ruivo e seus olhos azuis,apesar de ser cego de eles. Estes rasgos se deviam a sua procedência eslava, porque tinha sido capturado no sul da Rússia quando de menino pelos Tártaros, que o vendera ao emir de Hama.

Posteriormente transferido para a corte do Egito, onde conseguiu ascender na hierarquia. Formava parte dos Mamelucos, grupo de seletivos escravos brancos islamizados de função militar e de origem Eslavo Turcomano. Eram libertados ao alcançar certo rango. Ainda que permaciam fieis ao Sultão. No entanto tal era a sua força que em 1250 derrotaram a dinastia Ayubi a qual serviam e se ergueram como os novos governantes. Regeram os destinos do Próximo Oriente durante mais de dois séculos até a chegada dos Turcos.

Baibars,desde o seu novo cargo de general,participou decisivamente na vitoria contra Luis IX de França na sétima Cruzada e logo em 1260, contra os Mongóis,que com o apoio dos Armênios tomaram Damasco e ameaçavam o Egito.Depois de lhes infringir uma severa derrota,neste mesmo ano derrotou pela força o Sultão Mameluco e lhe sucedeu. A partir de esse momento não parou com o assédio a todas as posições Cristãs. Logrou conquistar várias cidades da costa Sírio-Palestina, entre as quais se destacou a conquista de Antioquia, ainda que fracassasse em São João de Acre. Sua determinação para acabar com a presença dos Cruzados na região o levou em Fevereiro de1271, a sitiar a fortaleza mais poderosa que ainda estava em mãos dos Cruzados; Krak.Durante dois meses suas forças se dedicaram a minar o anel exterior das muralhas,sem que os escassos Cruzados ali residentes pudessem fazer nada para contrariar esta atitude.

Perante a falta de efetivos os Cavaleiros tinham apenas uns duzentos homens, sargentos e serventes. Os Cavaleiros optaram por refugiar-se nas torres e no perímetro interior, tentando poupar homens e armas. Era lógico que com uma guarnição reduzida, não se podia cobrir o perímetro exterior, o que reduziu as possibilidades de cobrir as defesas naquelas áreas. Ao fim de cinco semanas, as forças de Baibars lograram romper a primeira linha defensiva.

 

 

No entanto ainda existia o fosso e a formidável cidadela interior, o que era evidente que tardariam meses em penetrar este segundo anel caso os Cavaleiros não se rendessem. Mas estes fieis a seus juramentos e sabendo o cruel tratamento selvagem que os Sarracenos davam aos Cavaleiros se negaram a render-se.

                    Conta a lenda que,perante a determinação Cristã, Baibars idealizou um estratagema para lograr a entrega do castelo.Enviou uma pomba mensageira ao chefe da guarnição com permissão  para render-se. A carta estava de forma ardilosa assinada pelo grande mestre da ordem, que se tinha mudado a São João de Acre.

                                                                                                                    

                                              O engano surtiu efeito, porque a situação dos defensores era desesperada, e neste momento não tinham homens para proteger o castelo. Assim, iniciaram as negociações com Barbars,e este aceitou respeitar a vida e os bens dos Cruzados,que puderam retirar-se para Trípoli e para São João de Acre.A rendição se produziu no dia 8 de Abril de 1271. O krak nunca mais voltou para as mãos dos Cristãos, serviria a partir de então como base de operações para as ultimas conquistas Muçulmanas dos poucos territórios que ainda estavam em mãos dos Ocidentais.

 

 

 

 

 

TEXTOS
 
 
 
 
 
 
 

 

 

 

Vou contar-vos uma graciosa lenda persa que exprime uma grande verdade.

Deus, assentado no trono excelso de sua glória, chamou um anjo e disse-lhe:
— Vai àquele jardim, na terra lá em baixo, e traze-me a flor mais bela que encontrares.

O anjo, mensageiro de Deus, desceu ao jardim e contemplou a variedade e a graça com que milhares de flores ali se misturavam, como um mosaico admirável. Viu o minúsculo jasmim ao lado do grande helianto, a dália à sombra da madressilva abraçada ao oleandro; viu a margarida, a pervinca, a primavera e todas as outras belezas que erguem o seu hosana ao Criador.

 Mas o seu olhar fixou-se na rainha das flores, a rosa aveludada e odorosa, e disse:
— Esta é, certamente, a flor mais bela. Colheu-a e voou ao trono do Altíssimo.
— A rosa — disse Deus — é o símbolo do amor, doce expressão de um coração ardente. Com a sua formosura, atrai os olhares; é suave, perfumada, delicada, mas não é a flor mais bela. O anjo voou de novo ao jardim. Não olhou para o cravo, nem para a margarida, nem para a flor-de-lis. Não deu atenção ao amor-perfeito nem à tulipa soberba, mas, voando pressuroso a um canto escondido do jardim, colheu uma humilde violeta e disse:


— Certamente o símbolo da humildade há de ser a mais bela das flores.
Retomando o voo, foi ajoelhar-se aos pés da Majestade suprema. Deus, tomando a violeta, sentiu-lhe o delicado perfume e disse:


— Sim, é bela a violeta oculta, humilde e pequenina e de tão agradável fragrância. A humildade é a virtude que faz os santos, vence os demônios e opera grandes maravilhas nos corações dos homens. Todavia, não é a mais bela das flores.

O anjo retornou ao jardim. Fixando o olhar no lírio, ficou encantado com a sua alvura imaculada, seu porte altivo, seu perfume suave. Contemplou-o demoradamente, pensando e dizendo:

— Eis o símbolo da pureza imaculada. Esta, sim, deve ser a flor mais bela. Vendo-o, Deus exultou e disse:

 — O símbolo da pureza, da pérola mais fúlgida, mais heroica e sublime. Esta, sim, é a mais bela das flores. E os olhos divinos brilharam de complacência. Foi com um misto de respeito e de amor que se estudou longamente essas tradições inumeráveis de gerações fiéis, nas quais a fé e a poesia cristãs, as mais altas lições da religião e as mais deliciosas criações da imaginação se confundiam numa união tão intima que não sabemos como separá-las.

 

 Mesmo se não tivésse a felicidade de crer com inteira simplicidade nas maravilhas do poder divino que elas relatam, jamais sentiríamos a coragem de menosprezar as crenças inocentes que tocaram e encantaram milhões de nossos irmãos durante tantos séculos. Tudo o que elas podem encerrar, mesmo de pueril, se eleva e se santifica a nossos olhos, por ter sido o objeto da fé de nossos pais, daqueles que estavam mais próximos de Cristo do que nós. Longe disto, confessamos em alta voz que ai encontrou muitas vezes socorro e consolação.

E não somos os únicos. Porque, se por toda porte as pessoas que se dizem esclarecidas e sábias as desprezam, há ainda refúgios nos quais essas doces crenças permaneceram caras aos pobres e aos simples. Sob o ponto de vista puramente histórico, as tradições populares, e notadamente aquelas que se ligam à religião, se não têm uma certeza matemática, se não são o que se chama de fatos positivos, ao menos tiverem força, e exerceram sobre as paixões e os costumes dos povos uma influência muito maior que os fatos mais incontestáveis para a razão humana. A este titulo certamente merecem a atenção e o respeito de todo historiador sério e solidamente crítico. São Luis, morrendo pela Cruz além-mares, invocava com fervor a humilde pastora, padroeira de sua capital. Os bravos PORTUGUESES, fustigados pelos mouros, viam Santiago misturar-se em suas fileiras. E, voltando à carga, mudavam logo sua derrota em vitória. 

Os cavaleiros e os nobres senhores tinham por modelos e patronos São Miguel e São Jorge; por senhoras de suas piedosas cogitações, Santa Catarina e Santa Margarida; e, se lhes acontecia de morrerem prisioneiros e mártires pela fé, pensavam em Santa Inês, a menina que tinha também dobrado o pescoço sob o ferro do carrasco. Não acabaríamos mais se tentássemos especificar os inumeráveis laços que ligavam assim o Céu e a Terra, se penetrássemos nesta vasta esfera na qual todas as afeições e deveres da vida mortal encontravam-se entrelaçados com proteções imortais, na qual as almas, mesmo as mais desamparadas e solitárias, encontravam todo um mundo de consolações e de interesses, ao abrigo das decepções daqui de baixo. 

Todas essas piedosas tradições, umas locais, outras pessoais, se eclipsavam e se confundiam naquelas que o mundo inteiro repetia a respeito de Maria. Rainha da Terra e Rainha de Céu, enquanto todas as frontes e corações estavam inclinados diante dEla, todos os espíritos eram inspirados por Sua gloria; enquanto o mundo cobria-se de santuários, de catedrais elevadas em Sua honra, a imaginação dessas gerações poéticas não cessava de falar da descoberta de novas perfeições, de novas belezas, no seio dessa beleza suprema. 

Cada dia via brotar alguma legenda mais maravilhosa, algum novo adereço de joias que o reconhecimento do mundo oferecia Àquela que lhe havia reaberto as portas do Céu, repovoado as fileiras dos anjos, tirado aos homens o direito de se queixar do pecado de Eva; à humilde serva coroada por Deus com a coroa que Miguel arrancara a Lúcifer, precipitando-o nos infernos. 

Todas as pessoas acrescentam algo de poético ao mundo. A todas as coisas acrescentamos algo de poético. É uma necessidade incontornável. Canções, histórias e poesia são a bela túnica com a qual nosso espírito reveste o mundo.
Somente as personalidades que surgem da imaginação, como os heróis, as grandes figuras da História — Carlos magno, por exemplo — são as que se põem para a fantasia de um povo como representantes de forças superiores e misteriosas.

É como se os homens do dia-a-dia, na sua sede de maravilhoso, adornassem os grandes personagens com forças e poderes que eles na realidade não chegaram a ter. Eles desejam que assim tivesse sido no passado, porque o homem não pode viver sem o maravilhoso.Em quase todos os países se cogita de tesouros enterrados e seus guardiões, de castelos fantásticos, de sinos submersos que emergem das profundezas da água, e que tocam.
Por isso existe nas lendas algo de responsável, digno de honra. Mesmo que aquilo que contêm nunca tenha acontecido, no entanto elas são reais, pelo fato de revelarem o sentimento da humanidade como Deus o criou.
Com certeza se trata de uma instituição sábia o fato de que do fundo do coração acrescentamos algo de criativo àquilo que vemos, ouvimos e apalpamos com as mãos. Isso se chama poesia. Ela é uma dádiva de Deus aos homens, e se ela encontra eco nas suas almas, alegra ao mesmo tempo os homens e seu Altíssimo doador.

karen woorfihs

 

   

                  

 

“Na catedral, os cristãos se reuniam em torno do padre que celebrava a missa em um altar olhando para o Oriente e renovava, sem derramamento de sangue, o máximo mistério do cristianismo: a Encarnação, Paixão e morte de Jesus Cristo. Nas Cruzadas, as mesmas pessoas pegavam em armas para libertar a Cidade Santa de Jerusalém que caíra nas mãos dos maometanos. O túmulo vazio do Santo Sepulcro, junto com o Santo Sudário, são testemunhos vivos da Ressurreição e as mais preciosas relíquias da Cristandade. A primeira Cruzada foi pregada em decorrência da meditação das palavras de Cristo: ‘Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me’ (Mt 16, 21-27). Aquela mesma Cruz, em torno da qual se reuniam as pessoas nas catedrais, foi estampada nas vestes dos cruzados e exprimia o ato pelo qual o cristão se mostrava disposto a oferecer sua vida pelo bem sobrenatural do próximo brandindo suas armas. O espírito das Cruzadas era, e continua a ser, o espírito do cristianismo: o amor ao mistério incompreensível da Cruz.”

               

O ensinamento de que a vida espiritual é uma luta está especialmente desenvolvido nas cartas de São Paulo. Em muitos lugares delas encontram-se metáforas e imagens tiradas da vida do guerreiro. O Apóstolo explica como a vida cristã é um bonum certamen (bom combate) que deve ser batalhado “pelo bom soldado de Jesus Cristo” (II Tm. 2, 3). “Revesti-vos da armadura de Deus ‒ diz ele ‒, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares. Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever” (Ef 6, 11ss).

E ainda: “Ficai alerta, à cintura cingidos com a verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz. Sobretudo, embraçai o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus.” (Efésios 6, 14-17).

O espírito da Cruzada e do martírio tem uma origem comum na dimensão profunda da guerra espiritual. O martírio, como o sofrimento, pressupõe o combate.

A própria vida de Jesus Cristo pode ser considerada como uma batalha constante contra o conjunto das forças hostis ao reino de Deus: o pecado, o mundo e o diabo.

Que a vida do cristão seja uma luta é um dos conceitos que com maior frequência ressoa no Novo Testamento, onde lemos: “Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus Cristo. Nenhum soldado pode implicar-se em negócios da vida civil, se quer agradar ao que o alistou. Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras.” (II Tm. 2 5). “O Evangelho, aliás, em seu genuíno sentido original, é a proclamação de uma vitória militar, neste caso a vitória de Cristo sobre o mal e os poderes das trevas.”

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