CAVALEIROS TEMPLÁRIOS PARTE II  

       

 

Apesar do gigantismo, estando presente em, praticamente, toda Europa, o Templo jamais perdeu sua unidade. Independente do lugar, e de suas particularidades inerentes, seus membros mantiveram posturas eminentemente coesas, obedecendo a uma só Regra. Contudo, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que a confraria se adaptava às características especificas de cada reino em particular, de acordo com as situações política, econômica e social que encontravam.

 

Os cavaleiros templários, por exemplo, da França e da Inglaterra, ocupavam-se, sobretudo, com atividades financeiras. Ao passo que os freires que serviam na Península Ibérica, principalmente nos primeiros anos da Ordem, integraram-se nas Guerras de Reconquista. Em grande medida, o Templo deveu sua expansão nos Reinos Ibéricos à luta contra os mouros. Recrutados pela nobreza, ao mesmo tempo em que recrutavam membros da nobreza para ingressarem em suas fileiras, seus serviços militares foram regiamente recompensados com doações de terras e propriedades, por toda extensão da península.

 

Em função de tamanho acumulo de poder, o processo contra os cavaleiros Templários tornou-se um dos mais polêmicos de todos os tempos. Envolveram altos interesses políticos, econômicos e religiosos. Eminentes juristas modernos, estudando suas atas, o designam de “processo da intolerância” Muitos tratados foram escritos sobre o assunto. Lista numerosa, porém, raramente conclusiva. O que existe de certo é que o resultado imediato do processo, a dissolução da Ordem, seguido do assassinato brutal dos mestres da confraria, queimados vivos em praça pública, foi de tal forma demonizado, que, já nos primeiros anos após os acontecimentos, a tendência mais imediata tornou-se é a de diminuir a possibilidade de culpa por parte dos monges – guerreiros.

 Como de costume, o réu inocente, neste caso em particular toda uma organização, teria sido vítima de uma conspiração. Os conspiradores invejavam sua posição, cobiçavam seus bens e temiam seu poder. Na verdade, para muito além destas simplificações, trata-se de caso controverso, cujo teor polêmico arrasta-se pelos séculos. É de se supor que um monarca hábil, e de tendências centralizadoras, como Filipe, o Belo, pudesse ter a percepção para compreender e inverter a seu favor as histórias escabrosas que se contava sobre o Templo. Observando pragmaticamente, os Templários representavam uma ameaça eminente a certos reinos europeus. O Templo, contando com a ajuda de Bernardo de Claraval, poucas décadas depois de desembarcarem na Europa, oriundos do Oriente, já era uma Ordem rica. Seu papel na Igreja pode ser avaliado pela presença de representantes nos Concílios de Troyes (1128), Latrão (1215) e Lyon (1245).

 

Este é um gênero de milícia não conhecido nos séculos passados, no qual se dão ao mesmo tempo dois combates com um valor invencível: contra a carne e o sangue e contra os espíritos de malícia espalhados pelos ares. Em verdade, acho que não é maravilhoso nem raro resistir generosamente a um inimigo corporal somente com as forças do corpo. Tampouco é coisa muito extraordinária, se bem que seja louvável, fazer guerra aos vícios ou aos demônios com a virtude do espírito, pois se vê todo o mundo cheio de monges que estão continuamente neste exercício. Mas quem não se pasmará por uma coisa tão admirável e tão pouco usada como é ver a um e outro homem poderosamente armado dessas duas espadas, e nobremente revestido do caráter militar?

Certamente esse soldado é intrépido e está garantido por todos os lados. Seu espírito se acha armado do elmo da fé, da mesma forma que seu corpo da couraça de ferro. Estando fortalecidas por essas duas espécies de armas, não teme nem aos homens nem aos demônios. E digo mais: não teme a morte, posto que deseje morrer. Com efeito, o que pode fazer temer, seja a morte ou a vida, quem encontra sua vida em Jesus Cristo e sua recompensa na morte? É certo que ele combate com confiança e com ardor por Jesus Cristo, entretanto deseja mais morrer e estar com Jesus Cristo, porque este é seu fim supremo.

"Eia, pois, valoroso cavaleiro marche com segurança, expulsai com uma coragem intrépida os inimigos da Cruz de Nosso Senhor, e estai certos de que nem a morte nem a vida poderão separar-vos da caridade de Deus, que está em Jesus Cristo. Pensai com frequência, durante o perigo, nestas palavras do Apóstolo: "Vivamos ou morramos, somos de Deus".

 

 

O Grande Mestre patriarca, Jacques de Molay, foi um dos que confessou. Mas a 14 de Março de 1314, enquanto ele era exibido no exterior da catedral de Notre-Dame em Paris para ouvir a sua sentença de prisão perpétua, De Moley discursou uma dramática declaração:

 

"Penso verdadeiramente" — proferiu ele, "Que neste solene momento eu deva proferir toda a verdade. Ante o céu e a terra, e com todos vocês aqui como minha testemunha, eu admito que sou culpado da mais grotesca das iniquidades. Mas essa iniquidade foi eu ter mentido ao ter admitido as grotescas acusações emitidas contra a Ordem. Declaro que a Ordem está inocente. A sua pureza e santidade estão acima de qualquer suspeita. Eu admiti de fato que a Ordem era culpada. Mas unicamente assim agi para evitar contra mim as terríveis torturas — A vida foi-me oferecida, mas pelo preço da infâmia. Por este preço, a vida não vale a pena ser vivida."

 

               

 

TEXTOS
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