CRUZADAS III

Por uma questão de fé:

EM MEIO DA EXORTAÇÃO                 

O ABSURDO DA:      “RAZÃO ÚNICA DE ORDEM ECONÔMICA...?”

É preciso frisar isto, porque aqui não são os filmes nem os romances que estão dando uma ideia distorcida da Cavalaria, mas os próprios historiadores que dizem que os cavaleiros iam para o Oriente em busca de riquezas, fortuna, glória. Glória acreditamos que sim, mesmo porque estava dentro do espírito deles. Mas… riqueza e fortuna, como e onde? Será que iriam deixar a França e a Inglaterra, onde tinham castelos, terras, mulheres e filhos, e criadagem à sua disposição, para navegar naqueles barquinhos, que mais pareciam casca de noz, e atravessar o que eles chamavam de “Mar Tenebroso”? (Acreditavam que o mar acabasse a certa altura… de repente; logo surgiam a cachoeira e o naufrágio…)

 

E nem sequer sabiam o que vinha depois da África! Aventurando-se completamente naqueles pequenos barcos para chegar a um deserto terrível, com um calor a que não estavam acostumados, e encontrar um povo de língua estranha-para conquistar o quê? O que eles iriam ganhar do ponto de vista econômico ao deixar os seus bens na Europa? Se não entendermos os objetivos da Cavalaria medieval, não conseguiremos entender as Cruzadas; porque, do ponto de vista econômico, era um malogro total.

 

 Não eram apenas cavaleiros de classes humildes que iam para a Terra Santa. Reis e príncipes abandonavam seus tronos e iam também, como foi o caso de Ricardo Coração de Leão, Felipe de França e tantos outros. Assim, não é possível explicar essa guerra apenas sob o prisma econômico. E isso se coloca tão só como observação, pois sabemos que. De tempos a tempos, surge outro historiador querendo defender a tese de que “a grande razão de ser das Cruzadas era a conquista de bens materiais”; quando pelo contrário, parece-nos que até estavam perdendo esses bens.

A MOTIVAÇÃO PRINCIPAL: A FÉ

Na catedral, os cristãos se reuniam em torno do padre que celebrava a missa em um altar olhando para o Oriente e renovava, sem derramamento de sangue, o máximo mistério do cristianismo: a Encarnação, Paixão e morte de Jesus Cristo. Nas Cruzadas, as mesmas pessoas pegavam em armas para libertar a Cidade Santa de Jerusalém que caíra nas mãos dos maometanos. O túmulo vazio do Santo Sepulcro, junto com o Santo Sudário, são testemunhos vivos da Ressurreição e as mais preciosas relíquias da Cristandade. A primeira Cruzada foi pregada em decorrência da meditação das palavras de Cristo: ‘Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me’ (Mt 16, 21-27).

 Aquela mesma Cruz, em torno da qual se reuniam as pessoas nas catedrais, foi estampada nas vestes dos cruzados e exprimia o ato pelo qual o cristão se mostrava disposto a oferecer sua vida pelo bem sobrenatural do próximo brandindo suas armas. O espírito das Cruzadas era, e continua a ser, o espírito do cristianismo: “o amor ao mistério incompreensível da Cruz.”

O ensinamento de que a vida espiritual é uma luta está especialmente desenvolvido nas cartas de São Paulo. Em muitos lugares delas encontram-se metáforas e imagens tiradas da vida do guerreiro. O Apóstolo explica como a vida Cristã é um “bonum certamen” (bom combate) que deveria ser batalhado, “pelo bom soldado de Jesus Cristo” ( II Timotio 2,3). “Revesti-vos da armadura de Deus-diz ele-, para que possais resistir ás ciladas do demônio.

 Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar. Mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal espalhadas nos ares.Tomai, por tanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumprimento do vosso dever” Efésios 6,11ss.E ainda:” ficai alerta,à cintura cingidos com verdade, o corpo vestido com a couraça da justiça, e os pés  calçados de prontidão para anunciar o Evangelho da paz.

Sobretudo abracem o escudo da fé, com que possais apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai, enfim, o capacete da salvação e a espada do Espírito, isto é, a palavra de Deus”. (Efésios 6, 14-17).

O espírito da Cruzada e do martírio têm uma origem comum na dimensão profunda da guerra espiritual. O martírio, como o sofrimento, pressupõe o combate. A própria vida de Jesus Cristo pode ser considerada como uma batalha constante contra o conjunto das forças hostis ao reino de Deus: o pecado o Mundo e o diabo.

 Que a vida do cristão seja uma luta é um dos conceitos que com maior frequência ressoa no Novo Testamento, onde lemos: “Suporta comigo os trabalhos, como bom soldado de Jesus Cristo”. Nenhum soldado pode implicar-se em negócios da vida civil, se quer agradar ao que o alistou. Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras “... (II Timo. 2,5). O Evangelho, aliás, em seu genuíno sentido original, é a proclamação de uma vitória militar, neste caso a vitória de cristo sobre o mal e os poderes das trevas.

 

Carlos Navarro     

 

 

RESUMO FINAL DAS CRUZADAS

A primeira (1096 – 1099) não tinha participação de nenhum rei. Formada por cavaleiros da nobreza, em julho de 1099, tomaram Jerusalém. A segunda (1147 – 1149) fracassou em razão das discordâncias entre seus líderes Luís VII, da França, e Conrado III, do Sacro Império. Em 1189, Jerusalém foi retomada pelo sultão muçulmano Saladino.

 

 A terceira cruzada (1189 – 1192), conhecida como ‘”Cruzada dos Reis”, contou com a participação do rei inglês Ricardo Coração de Leão, do rei francês Filipe Augusto e do rei Frederico Barbarruiva, do Sacro Império. Nessa cruzada foi firmado um acordo de paz entre Ricardo e Saladino, autorizando os cristãos a fazerem peregrinações a Jerusalém. A quarta cruzada (1202 – 1204) foi financiada pelos venezianos, interessados nas relações comerciais.

 

 A quinta (1217 – 1221), liderada por João de Brienne, fracassou ao ficar isolada pelas enchentes do Rio Nilo, no Egito. A sexta (1228 – 1229) ficou marcada por ter retomado Jerusalém, Belém e Nazaré, cidades invadidas pelos turcos. A sétima (1248 – 1250) foi comandada pelo rei francês Luís IX e pretendia, novamente, tomar Jerusalém, mais uma vez retomada pelos turcos.

 

 A oitava (1270) e última cruzada foi um fracasso total. Os cristãos não criaram raízes entre a população local e sucumbiram. As Cruzadas não conseguiram seus principais objetivos, mas tiveram outras consequências como o enfraquecimento da aristocracia feudal, o fortalecimento do poder real, a expansão do mercado e o enriquecimento do Oriente.

   
 

  A fé pode ter desempenhado um papel importante como motivação de boa parte dos Cruzados, mas a Quarta Cruzada, por exemplo, preferiu saquear o porto de Zara e Bizâncio ao invés de se encaminhar à Palestina. Também é importante destacar que os Cruzados sempre violaram os acordos firmados com as potências muçulmanas, alguns dos quais garantiam a posse de Jerusalém, Belém e de um corredor do litoral até as duas cidades.